Aqui fica o resto da conversa que tive com o Miguel Mendes, um rapaz que anda por aí a pedalar por entre o trânsito da hora de ponta!
Os planos da CML para construir ciclovias concentram-se na beira-rio (1º Cais do Sodré - Belém / 2º Cais do Sodré - Sta Apolónia / 3º Sta Apolónia - Expo): concordas ou há zonas da cidade que mereciam especial atenção (mesmo não sendo tão fáceis como a beira-rio, em termos de relevo)?
R: Essas zonas representam não zonas de tráfego diário casa-trabalho-casa mas sim zonas de lazer. Reflictamos então na questão: qual o objectivo dessas construções? Passeios de fim de semana ou melhor e mais saudável mobilidade urbana?
As ciclovias, na minha opinião, são um péssimo começo. A bicicleta não precisa de um espaço isolado para circular e ser discriminada e afastada do trânsito. A bicicleta É um meio de transporte, como qualquer outro, e deve ser visto como tal. No meio de carros, motas, bicicletas e carroças de burros. As ciclovias só dá mais razões aos automobilistas de acelerarem nas faixas "deles". As ciclovias representam também grande fonte de perigo de colisão com automobilistas (quem será o mais lesado??) em cruzamentos e zonas de intersecção de vias.
Mas fora esta opinião, as zonas que devem ser mais focadas são as grandes artérias da cidade: avenida da liberdade, av. república, infante santo, etc, onde as grandes e ilegais velocidades dos automobilistas põem em risco a segurança dos ciclistas e onde o trabalhador passa MESMO no percurso casa-trabalho-casa.
Esquecendo o relevo, quais as maiores dificuldades em andar de bicicleta em Lisboa?
R: Talvez a falta de local para tomar banho ao chegar ao trabalho; a falta de civismo e paciência de alguns automobilistas (foram poucos os que até hoje me buzinaram); o excesso de velocidades mantidos nas cidades, corrigidos por alterações na estrutura física das ruas, lombas altas e longas, mais radares, maior fiscalização de velocidades por parte das autoridades locais, maior número de estacionamentos de bicicletas (para não ficarem em postes a atrapalhar os passeios aos donos destes, os peões)
Conheces mais pessoas que, como tu, usem a bicicleta como meio de transporte?
R: Dezenas de pessoas. Unidas uma vez por mês, para celebrar essa vontade e reinvindicar o espaço da bicicleta nas ruas, na Massa Crítica de Lisboa.
O que é que te costumam dizer quando te vêem a pegar na tua viatura?
R: Vais de bicicleta? Não é perigoso? Se eu não tivesse que subir a rua XPTO também fazia isso. Mas depois chegava todo transpirado. E não te roubam a bicicleta? Ahhhh corajoso!
Que conselhos darias a quem quisesse começar a usar a bicicleta como meio de transporte?
R: Ganhem confiança fora do alcatrão e à medida que se vão habituando às ruas urbanas, certifiquem-se que são vistos. Não se cheguem demasiado ao passeio pois podem cair, ou levar com a porta de alguém a sair do carro. Mostrem-se e deixem claro "Este espaço é meu!" E não se esqueçam de uma bicicleta com mudanças...
Saiam à mesma hora que o vosso vizinho, apreciem a paisagem, cheguem antes dele e vejam-no, da janela do escritório, às voltas para tentar encontrar lugar para estacionar.
Ah e digam-lhe até logo quando ele tiver que parar para pôr gasolina.
Boas pedaladas! E bom feriado!